Vereador diz que secretária municipal está 'brincando de casinha' e é processado por violência política de gênero, no PR; VEJA VÍDEO
18/08/2025
(Foto: Reprodução) Vereador usa tribuna para dizer que secretária municipal está 'brincando de casinha', no P
A secretária municipal da Família e Desenvolvimento Social de Ponta Grossa, Camila Sanches, está processando o vereador Erick Camargo, o Dr. Erick (PV), por violência política de gênero após ele utilizar a tribuna da Câmara Municipal para dizer que ela está "brincando de casinha" na função pública. A fala foi feita na sessão ordinária de 6 de agosto.
Na mesma ocasião, Dr. Erick disse que ficou sabendo que "a secretária [Camila] está preocupada em trocar as janelas da secretaria, em mudar a cor das paredes e em comprar mobiliário novo pra secretaria". Veja no vídeo acima.
Na sessão anterior, de 4 de agosto, o vereador também havia reclamado da secretária por ela supostamente não atender ligações dele, afirmando que ele a defendeu no passado quando outros vereadores a criticaram por pensar que uma ação dela tinha sido "uma ingenuidade, uma falta de experiência".
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O g1 teve acesso aos documentos da ação judicial. No processo, também foram anexados prints de mensagens enviadas pelo vereador diretamente à secretária municipal e também em um grupo onde ambos participam junto a outros vereadores.
Nelas, o homem a chama de "secretariazinha" e diz que se ele for até a secretaria e não for atendido por ela, vai abrir a porta "no bicudo", ou seja, com chutes. Veja nos prints abaixo.
O primeiro print é de uma conversa privada entre o vereador e a secretária, enquanto que o segundo é de um grupo com mais pessoas
Reprodução
"Ele a expôs, chamando-a de 'secretariazinha', uma expressão com nítido caráter misógino e que visa diminuir a relevância do cargo e a capacidade profissional da autora. Ele buscou deslegitimar a atuação dela, insinuando que a indicação para o cargo não se deu por mérito próprio, mas sim por causa dele e dos demais vereadores, diz o advogado da secretária.
No processo, a defesa de Camila Sanches afirma que a conduta de Erick Camargo "configura nítida violência política de gênero, desmerecendo e atacando a autora por sua condição de mulher em cargo público".
🔍A Lei nº 14.192, de 2021, considera "violência política contra a mulher toda ação, conduta ou omissão com a finalidade de impedir, obstaculizar ou restringir os direitos políticos da mulher".
Nas redes sociais, o político disse que a acusação é infundada e faz parte de uma perseguição a quem votou contra um projeto de lei da prefeitura. No entanto, ele ressalta que "não quis ofender ninguém de forma pessoal" e pede desculpas à secretária "se ela entendeu assim".
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O que dizem os envolvidos
O vereador Dr. Erick publicou um vídeo nas redes sociais comentando o caso. Ele chamou a acusação de "engrenagem de perseguição aos vereadores que votaram contra o aumento do IPTU.
"Há um grande mecanismo de perseguição [...] Eu, de forma alguma, quis ofender ninguém de forma pessoal; até se a secretária entendeu assim, eu peço humildemente desculpas. Agora, as minhas críticas estão bastante enfáticas em relação ao trabalho desempenhado pelas secretárias do Município e pelos secretários do Município, porque essa é a minha função como vereador."
A secretária municipal da Família e Desenvolvimento Social também abordou o caso nas redes sociais.
Em uma publicação acompanhada de fotos e informações sobre a própria carreira, ela cita que por não ter podido responder uma mensagem de WhatsApp "com a rapidez que ele desejava, ou exigia", foi chamada de "secretariazinha" e "coitadinha". Também afirmou que "a mulher deve sempre buscar na Justiça seus direitos e a reparação dos danos morais contra sua honra".
"Eu não tenho medo de homens covardes, machistas e misóginos. Se alguma vez tivesse tido medo em minha vida, não seria advogada com especialização em direito da família. Não teria uma carreira reconhecida como advogada defensora dos direitos das mulheres. [...] Nesta minha trajetória, aprendi a lidar e não temer homens que se sentem no direito de xingar e atacar mulheres que não lhes são submissas da maneira que eles acham que toda mulher deve ser", escreveu.
Dr. Erick e Camila Sanches
Reprodução/Câmara Municipal - Reprodução/Redes Sociais
A Câmara Municipal também se manifestou sobre o caso. A casa informou que recebeu, no dia 13 de agosto, representação formal face ao vereador Erick Camargo, apresentada pela secretária municipal.
O pedido foi encaminhado à Corregedoria, que vai "verificar a admissibilidade da solicitação, observando os critérios legais e regimentais, garantindo o pleno direito à ampla defesa e ao contraditório".
"A Câmara Municipal reitera seu compromisso com a legalidade, a transparência e o respeito ao devido processo legislativo, assegurando que todas as etapas serão conduzidas de forma imparcial e dentro dos prazos previstos", afirma a assessoria de imprensa.
Ao g1, o diretório municipal do partido do vereador, o Partido Verde (PV), disse que acompanha os desdobramentos do fato e ressalta o pedido de desculpas feito pelo parlamentar após o ocorrido.
"Reafirmamos nosso compromisso com o respeito às mulheres e sua plena participação na vida pública, destacando o histórico do Partido Verde do Paraná no enfrentamento à violência de gênero — em qualquer instância, sobretudo na política".
Processo na Justiça
O processo foi protocolado na justiça no dia 11 de agosto e está em análise no Juizado Especial Cível de Ponta Grossa.
Na ação, a secretária pede que o vereador seja condenado a pagar R$ 30 mil a ela como indenização por danos morais "em razão da violência política de gênero e dos ataques à honra e imagem" dela.
"A expressão 'brincando de casinha de boneca' é um ataque simbólico que ridiculariza a atuação da mulher em um cargo de liderança, associando-o a um universo infantil e doméstico, que, em sua visão misógina, seria tipicamente feminino, o que desqualifica a gestão da autora e reforça estereótipos de gênero. Essa conduta, em conjunto com as demais, constitui assédio e discriminação de gênero, buscando minar a imagem e a autoridade da autora como gestora pública", diz o advogado de Camila, na petição inicial.
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