Paranaense quer deixar guerra na Ucrânia, mas contrato exige seis meses de treinamento: 'Minha preocupação é que eu não consiga mais sair'
27/07/2025
(Foto: Reprodução) Paranaense quer deixar guerra na Ucrânia, mas contrato exige seis meses de treinamento
O paranaense Lucas Felype Vieira Bueno, de 20 anos, usou as redes sociais para pedir ajuda e tentar conseguir deixar a Ucrânia. Ele viajou ao país em maio deste ano após se alistar online para atuar como voluntário na guerra. Assista acima.
O jovem é natural de Francisco Beltrão, no sudoeste do estado. Ele contou que tinha a intenção de trabalhar como operador de drones na Ucrânia, mas recebeu ordens de deslocar para próximo à linha de frente dos combates.
Insatisfeito com a medida, Lucas tenta voltar ao Brasil, mas um contrato assinado por ele com o Ministério da Defesa Ucraniano não permite o retorno antes do prazo de seis meses – período mínimo para o treinamento.
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Em uma publicação na sexta-feira (25), Lucas afirmou que, embora tenha sido recrutado para atuar com tecnologia militar, foi realocado para um batalhão de infantaria em Kharkiv, uma das regiões mais afetadas na guerra com a Rússia.
"Vim para a Ucrânia como voluntário com a promessa de trabalhar com tecnologia militar, principalmente na área de drones. Desde que cheguei aqui tudo mudou. Estão me empurrando para funções de infantaria. Disseram que é treinamento, mas não acredito mais nisso. Estão colocando uma arma na minha mão e me levando para uma zona de guerra sem meu consentimento", afirmou, em vídeo.
Lucas compartilha nas redes sociais medo de ir para linha de frente do conflito
Arquivo pessoal
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No desabafo, Lucas alegou ter contatado a Embaixada do Brasil na Ucrânia, onde foi informado que a autoridade não pode interferir. O g1 procurou a embaixada e o Ministério das Relações Exteriores, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
Após o desabafo ganhar repercussão nas redes, Lucas disse que outros brasileiros na Ucrânia entraram em contato com ele para oferecer ajuda.
"Estamos conversando. Me pediram informações e disseram que vão me dar um retorno. Mas o futuro continua incerto", afirma.
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Contrato impede saída nos primeiros seis meses
O g1 teve acesso ao contrato assinado por Lucas em 29 de junho de 2025. O documento tem validade de três anos, com cláusula que proíbe o rompimento durante os primeiros seis meses — período classificado como "formação experimental". Ou seja, Lucas está legalmente impedido de deixar o país até pelo menos dezembro de 2025.
O documento também estabelece que a quebra do contrato antes do prazo de três anos exige acordo entre as partes ou pode ocorrer por outros motivos, como saúde ou emergência familiar. Caso contrário, em uma eventual saída, o militar precisa devolver equipamentos recebidos ou reembolsar o valor dos itens.
Quando chegou no país, na fase inicial de treinamento, ele começou a receber US$ 400 por mês, equivalente a R$ 2,2 mil. Segundo ele, havia a promessa de que os salários poderiam chegar a R$ 23 mil, dependendo da função e de bonificações. Depois de passar quatro semanas recebendo instruções de guerra e primeiros socorros, ele disse que pôde escolher uma brigada para ficar alocado.
“No segundo módulo, nos deram a opção de escolher uma brigada. Escolhi uma que tinha área de drones. Mas depois disseram que eu teria que ir para outra região. Não sei se foi erro ou má-fé, mas afirmaram que não podiam fazer nada [...] Desde que cheguei, deixaram claro que eu não poderia quebrar o contrato. Mesmo assim, tentei. Me disseram que só posso sair em caso de saúde ou emergência familiar", relata.
Lucas afirma que tem medo de ser forçado ao combate direto. "A minha preocupação é que eu não consiga mais sair daqui, pois aqui é o último passo antes do 'front'. A gente consegue escutar as explosões e tudo mais vindo da fronteira", disse ao g1.
Ele contou que nem seu físico, nem seu psicológico estão preparados para a linha de frente do conflito.
"As pessoas que estiveram no front falam que se conseguir, fuja do front, ninguém está preparado verdadeiramente para o front”, diz ele.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, nove brasileiros morreram no conflito e 17 estão desaparecidos até julho deste ano.
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A guerra na Ucrânia começou em fevereiro de 2022, quando o presidente russo, Vladimir Putin, autorizou uma ofensiva militar contra o território ucraniano. Desde então, o conflito provocou milhares de mortes, milhões de refugiados e intensos combates, especialmente no leste e sul do país.
A Ucrânia conta com apoio militar, financeiro e humanitário de países ocidentais, como os Estados Unidos e a União Europeia. A Rússia, por outro lado, enfrenta sanções econômicas internacionais. Até hoje, não há perspectiva concreta de fim do conflito.
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